o corpo pede abrigo
a carne sente medo
as mãos que um dia já foram frias
hoje já não tremem mais
por dentro são chamas
faíscas que saem pelos olhos
no meio do vazio
este corpo procura
um colo
essa consistência tão frágil
ainda deixou vestígios
do calor sentido
de um outro corpo
que será sempre sentido
quando duas carnes se unem
vira uma só
e nessa busca de um colo
este corpo encontra um
com previsão de adeus
[temporário]
e assim como a mãe
que dava o colo quente
dizia que não era eterna
este corpo pensava
nada então seria eternizado
mas ao deitar e sentir
percebeu que o calor de outro corpo
já foi eternizado dentro de si
ficou preso e não sai
e nesses corpos sincronizados
ao caminhar no mar pegando chuva
não sente incômodo
o frio que bate
se aquece por outros braços
e sem pressa
esses corpos ficam na presença da água e do ar